segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Porque é primavera.

Aconteceu assim: Ela odeia acordar cedo mas nesse dia, por conta de um bom humor repentino, resolveu pular antes da cama. Ele acordou cedo, e completou religiosamente a série de exercícios, como sempre. Por ter chegado alguns minutos antes, ela pegou um ônibus diferente e quando desceu, resolveu ir por outra rua. Ele fez o mesmo caminho de todos os dias mas, na primeira esquina, ela o fez desacelerar o passo. O passo dela continuou o mesmo, apesar de ter notado o passo dele. Não que passasse despercebido o homem bonito que ele era, mas naquele dia especialmente, amor não estava nos seus planos. Ainda mais às nove da manhã. Ele não era do tipo que paquerava moças na rua, aliás fazia tempo que não paquerava ninguém. Trinta e dois anos, inteligente, bem sucedido, o amor e ele andavam meio desencontrados. Quando ela o alcançou (e ele precisou inventar interesse numa vitrine para isso), exatamente quando estavam no mesmo ritmo, o semáfaro pediu que parassem para que a vida os colocasse lado a lado. Ela deu uma olhadinha disfarçada, afinal Susan Miller disse que em setembro as leoninas teriam uma ajuda de Marte nas conquistas, e um homem daqueles paquerando-a no meio da rua de manhã só poderia ser mesmo coisa de Marte. Ele não sabia bem o que dizer, mas sabia que se não dissesse agora poderia perdê-la na próxima esquina. Ele a olhava mas não dizia. Ela, muito malandra pra essas coisas de homem desconcertado e de excelente humor, resolveu ajudar. Você está procurando alguma coisa?. Ele teve vontade de dizer que estava e que acabara de encontrar. O sinal abriu, eles atravessaram juntos. O espaço de um quarteirão foi suficiente pra que dissessem muitas coisas e pra que ela notasse que ele tinha uns olhos castanhos lindos. Descobriram que trabalhavam em prédios vizinhos mas nunca se encontraram por conta da preguiça dela e da pontualidade dele. Que ambos passaram o último Carnaval no Rio e que iam ao mesmo bar todas as semanas mas em dias diferentes. Poderiam ter se conhecido muitos meses antes, mas foi assim, em um dia de sol e brisa leve, em que ela estava tranquila e ele se sentia ótimo, quando nenhum deles esperava. Ela, muito mística, achou incrível a astróloga acertar tanto, e alguma coisa vibrou dentro dela. Ele, muito seguro e paciente, pensou em avisá-la que seria, em breve, sua mulher, mas achou por bem pedir apenas seu telefone.

2 comentários:

Ana Cláudia disse...

"Qualquer semelhança com casos reais é mera coincidência"

Willian Figueiredo disse...

parabéns menina... excelente... continue...