terça-feira, 29 de novembro de 2011

O nada que me rouba tudo.

Queria me concentrar no trabalho mas estou com inveja do basset ruivo do conto de Clarice Lispector. Eu não consigo ser o basset que é forte e que segue sem olhar pra trás. Eu sempre sou a menina. A menina na calçada que não consegue desviar o olhar daquilo que julgou ser sua outra metade no mundo.
Preciso escrever quando me sinto assim vazia, quando não sei responder o que me falta e ao mesmo tempo murmuro sem parar que me falta tudo. Não é minha descrença em Deus repentina, não é a falta de grana, nem a rejeição amorosa. Na verdade agora, estou vazia porque não vejo sentido na busca por essas coisas. Quais meus planos pra dinheiro? Quais meus planos pra minha carreira? Quais meus planos pro meu relacionamento?
Acordei uma menina sem planos. Acordei vazia de esperança, e pode haver uma coisa mais dura que isso? Viver dias ausentes de esperanças?
É acordar com essa sede, essa secura e não achar remédio pra ela. Me irrita o fato de que agora eu não saiba responder o que exatamente estou esperando. Porque nem ao menos sei dizer se dentro do meu coração existe agora alguma espera. Estou como a menina ruiva do conto: sentada na calçada, amargando o incômodo do sol à pino e vendo uma parte de mim ir embora. Uma parte que admite me pertencer, mas que me julga demasiadamente fraca para querer ficar.

Nenhum comentário: